24 de fev. de 2011

ARTE PALEOCRISTÃ

ARTE PALEOCRISTÃ
O termo Arte Paleocristã, ou paleocristianismo, não designa propriamente um estilo, referindo-se antes a todo o tipo de formas artísticas produzidas por ou para cristãos, durante a vigência do império romano do ocidente. As formas mais antigas remontam ao século III, evoluindo posteriormente até ao século V d.C..
CONTEXTO E LEGADO ARTÍSTICO
Da produção artística dos primeiros 200 anos do cristianismo pouca informação chegou aos nossos dias. Esta aparente ausência de legado deve-se, em grande parte, à dificuldade de atribuição clara de criações desta época à Arte Paleocristã. Neste período de embrionagem do cristianismo, a sua arte adapta a muita das tipologias formais da arte romana pagã, "escondendo" os seus novos significados e conteúdos religiosos sob elementos de uma linguagem artística já profundamente enraizada no império romano. Também as restrições do Antigo Testamento à idolatria deverão ter tido um impacto castrador no que diz respeito à liberdade artística e às suas possibilidades expressivas.
Por outro lado, a nova religião é majoritariamente representada pelas classes sociais mais desfavorecidas, sem os apoios financeiros da arte imperial, não é ainda reconhecida oficialmente e é perseguida pela figura do imperador. Os primeiros indícios claros na afirmação de um estilo próprio surgem em inícios do século III com as pinturas murais nas catacumbas romanas, único lugar de culto e refúgio cristãos.
Com o Édito de Milão de 313, Constantino, convertido ao cristianismo, reconhece a liberdade de culto à nova religião que acaba por se transformar, após finais do século IV, na religião oficial do império. Com esta oficialização dá-se um impulso na produção artística e são edificados os primeiros lugares de culto próprio.
É também importante referir a transição, em 324, da capital do império romano para Constantinopla a oriente (anterior Bizâncio), fator crucial que levará à cisão do cristianismo em duas grandes vertentes (catolicismo a ocidente e ortodoxia a oriente) e conseqüentemente à evolução de um estilo artístico diferente no Império Bizantino, a Arte Bizantina. Mais tarde, no século VIII, esta situação entre a ortodoxia e a representação de imagens pela religião cristã vai culminar na crise iconoclasta.

CATACUMBAS
Nos primeiros 200 anos da nova religião, antes de Constantino, é provável que tenham existido vários centros artísticos com estilos artísticos próprios, como Alexandria e Antióquia, mas é em Roma que se revelam as primeiras pinturas murais em catacumbas, locais que serviam de cemitério subterrâneo aos aderentes do cristianismo, para quem a fé se baseava na esperança da vida eterna após a morte. É nesta constante aspiração ao Paraíso que o ritual funerário do enterro, e a conseqüente manutenção da sepultura, tornam-se o elemento chave das primeiras representações da arte cristã.
A pintura a fresco vai dominar essencialmente tetos num estilo ainda muito influenciado pela pintura mural romana tardia, onde vai buscar os motivos arquitetônicos para a ilusão espacial e as figuras planas de corpo proporcional. Mas este vocabulário tradicional é adaptado a uma nova mensagem onde se revelam temas bíblicos com especial preferência pela narração de milagres do Antigo Testamento (Milagre de Jonas). Alguns dos motivos da arte romana são transpostos para os novos conteúdos, como o cacho de uvas, a imagem do Bom-Pastor (que surge na figura de Cristo com o seu rebanho de ovelhas) e o pavão que, assim como o peixe (que alguns autores defendem também derivar da arte romana pagã), simbolizam a esperança na ressurreição e imortalidade.
ARQUITETURA
Até a declaração de liberdade de culto, a arte cristã não tinha uma tipologia arquitetônica própria, optando por celebrar o seu culto em lugares pouco relevantes. Com o Édito de Milão, Constantino apóia a construção de templos próprios, em Roma, Milão, Ravena, de modo a divulgar a nova religião e acolher o crescente número de convertidos.
A BASÍLICA
As novas igrejas, desenvolvidas a partir da basílica romana, vão revelar a base do que será a arquitetura religiosa da Europa ocidental ao longo dos séculos. A basílica clássica, um espaço amplo onde se possibilita o agrupamento de um avultado número de pessoas, pode satisfazer várias necessidades (tribunal, mercado, audiências etc), mas nunca serve o propósito de local de culto. Com a nova necessidade arquitetônica do cristianismo este espaço vai-se revelar como o indicado à nova procura de grandiosidade da nova religião e ao acolhimento dos fiéis, sem entrar em conflito com possíveis significados religiosos anteriormente atribuídos ao espaço. Observa-se o nascimento de um espaço que sintetiza em si elementos da basílica romana, da casa particular e originais.
Mas embora se tenham levado a cabo várias edificações, estas foram sendo alteradas ao longo dos tempos e nenhuma se apresenta hoje com o seu traçado original. É possível, mesmo assim, formar uma idéia da sua caracterização observando a ilustração da planta original da Basílica de São Pedro, ou o interior da Basílica de São Paulo extra-muros em Roma (que apresenta já algumas alterações, mas que se manteve no seu estado original até 1823).
A basílica paleocristã compõe-se, então, por uma nave central com clerestório de janelas altas, abertas em paredes assentes em arquivoltas ou em arquitraves, cujas colunas fazem a ligação a outras duas naves laterais (colaterais) de menor altura. Todo o espaço segue um eixo longitudinal e converge a oriente na abside, onde se situa o altar, e que é emoldurada por um arco triunfal. Este arco pode estar assente numa área elevada denominada bema. Em algumas basílicas, entre as naves e a abside, situa-se uma nave transversal, o transepto, que forma um T com a nave central. Os tectos eram de travejamento à vista, de madeira.
O exterior, pouco ornamentado, oferece a entrada do recinto a ocidente através de um atrium, um pátio rodeado de arcadas, que estabelece a sua ligação à igreja através de um nártex .

MOSAICO
O desenvolvimento da arquitetura e a emergente necessidade de decorar vastas superfícies vão impulsionar a produção artística do mosaico, uma técnica com origens na arte antiga, difundida na Mesopotâmia e com profundas tradições no período greco-romano. O mosaico romano, geralmente utilizado para o revestimento de pavimentos, é feito à base de pequenos cubos de mármore (tesserae) que se adaptam bem à reprodução cuidada de pinturas, mas de pouca intensidade cromática.
A arte Paleocristã, podendo agora usufruir de maiores bases financeiras e relegando para segundo plano a pintura mural a fresco, vai procurar aperfeiçoar a técnica e vai brindar o interior da igreja com intensas e vibrantes imagens policromáticas, possíveis pela substituição do mármore por pedaços de vidro colorido. Este novo material não permite, no entanto, uma paleta complexa de matizes e a modelação das figuras perde o seu contacto com o mundo real, as personagens apresentam-se como seres transcendentais, imateriais, habitantes de um reino de luz e ouro.
Pouco sobreviveu destes primeiros mosaicos do paleocristianismo, mas supõe-se que cobririam as grandes superfícies da abside, do arco triunfal e da nave, representando cenas bíblicas. Crê-se que a sua variedade formal tenha ainda herdado muito da arte romana adaptando-a aos novos conteúdos religiosos e isso pode-se ainda observar-se na Basílica de Santa Maria Maggiore pela forte geometrização e pelo ilusionismo espacial. É também de referir o novo objetivo de sintetizar as formas para que estas sejam compreensíveis à distância, ou seja, para que a mensagem principal possa ser compreendida de longe. Este fato vai acentuar a importância simbólica do gesto e do olhar como elementos relevantes na transmissão de mensagens, sendo também para isso distorcida a sua proporção em relação à figura.


Iluminura
Em oposição à arte romana pagã, o cristianismo baseia o seu conteúdo nos textos sagrados da bíblia, cunhando os manuscritos com ilustrações, as iluminuras, de elevada importância no processo de manutenção e propagação das escrituras. Acompanhando este aumento produtivo está também o desenvolvimento da técnica da produção dos suportes para manuscritos. Até então eram usados rolos de papiro que não permitiam grande liberdade artística no que diz respeito à ilustração. O permanente enrolar e desenrolar do papiro causava a deteriorização da tinta criando–se apenas cabeçalhos com formas simples e lineares. Com a introdução do pergaminho, na século II a.C., que se pode dobrar sem partir, surgem os primeiros livros com encadernações ricas em madeira e decoração em metal e pedras preciosas, os códices (vellum codex), onde a liberdade formal e cromática não encontra os limites anteriormente estabelecidos pelo suporte.
Poucas são as iluminuras do paleocristianismo que sobreviveram até aos nossos dias, mas o pouco que se conhece a partir do século V, apresenta uma rica variedade cromática que recebe inicialmente muita da influência da estrutura espacial e geometrização da pintura greco–romana. No Gênesis de Viena, uma das mais antigas iluminuras conhecidas do cristianismo, pode–se observar a sumptuosidade das cores e já a quebra com o uso de molduras de limite espacial. Aqui as imagens e o texto fazem parte de um todo em comunhão. De modo a otimizar o aproveitamento de espaço no pergaminho, a descrição dos acontecimentos não se desenrola em bandas horizontais, mas sim seguindo uma linha curva imaginária onde os diferentes momentos se vão sucedendo sem interrupção, a designada narração contínua.
ESCULTURA
A escultura assume um papel secundário pela proíbição à idolatria, evitando a representação da figura humana em tamanho natural, orientando-se, por isso, mais no sentido decorativo e de dimensões reduzidas. Podem-se referir, principalmente, trabalhos de relevo em sarcófagos, efetuado a partir do século III, de caráter simbólico, primando pela serenidade e artificialismo formal das figuras.

Referências Bibliográficas
ARTE PALEOCRISTÃ. Disponível na URL: http://pt.wikipedia.org/wiki/Arte_paleocrist%C3%A3. Acessado em 07/02/2010

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